Vou ser sincera e admito que ADORO tomar uma taça de vinho, clericot, spritz e, de vez em quando, até uma cervejinha. Entretanto, desde que descobri a gravidez, minha ginecologista Dra. Taís Santarossa foi incisiva na recomendação: “Nada de álcool durante a gestação”. Neste friozinho, confesso que sinto falta de brindar com meu marido, especialmente, quando saímos para jantar ou eu resolvo preparar um menu especial em casa. A alternativa que encontrei para tentar driblar a vontade é colocar suco de uva na taça de vinho e apenas sentir o aroma da bebida do meu marido.
Agora, vou explicar o motivo de tamanha restrição. A exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. Eles podem revelar-se logo ao nascimento ou mais tardiamente, perpetuando-se pelo resto da vida. Um deles é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que apresenta diversas manifestações, desde malformações congênitas faciais, neurológicas, cardíacas e renais até alterações comportamentais.
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A frequência dessas complicações varia conforme estado nutricional da gestante, genética e até mesmo a quantidade ingerida. Isso não significa que todos os bebês expostos serão afetados, mas a probabilidade é alta, comenta o presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Claudio Barsanti.
– Bebês com SAF têm alterações bastantes características na face, as chamadas dismorfias faciais. Além disso, faz parte do quadro o baixo peso ao nascer devido à restrição de crescimento intrauterino e o comprometimento do sistema nervoso central. Essas são as características básicas para o diagnóstico no período neonatal.
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A pediatra Conceição Aparecida de Mattos Ségre, coordenadora do Grupo de Prevenção dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido da SPSP acrescenta que “não há qualquer comprovação de uma quantidade segura de bebida alcoólica que proteja a criança de qualquer risco”.
– Neste caso, a gestante ou a mulher que pretende engravidar deve optar por tolerância zero à bebida alcoólica.
A pediatra Ana Laura Kawasaka concorda e explica que “o álcool atravessa a barreira placentária e em uma hora o nível no sangue do bebê é igual ao materno”.
– O feto não tem enzimas suficientes para metabolizar teor alcoólico. Ele prejudica o transporte de nutrientes para o bebê, diminui a oxigenação da placenta e pode interferir no desenvolvimento das células do sistema nervoso.
A Sociedade de Pediatria de São Paulo realizou uma pesquisa que revelou que 22,7% dos médicos pré-natalistas entrevistados aceitam a ingestão de até uma taça de vinho por gestante. No caso dos drinques com teor alcoólico mais elevado, 4,5% não contraindicam, desde que no limite de duas doses. Segundo a entidade, essa postura mostra a desinformação quanto aos riscos da exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica, podendo acarretar a Síndrome Alcoólica Fetal.
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